sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O livro que eu não escrevi.


Acordou assustada com o barulho que invadiu seus pensamentos.

Fechou seu livro, o colocou na mochila, olhou para o relógio: 15h40.

Olhou a sua volta, viu todos seus colegas de classe correrem atrasados para a aula de História Moderna. Mas não o viu passar.

Sentiu um pingo no ombro, outro no braço esquerdo, se enxugou olhou para cima para conferir o veredicto, "Vai cair um temporal", desabafou.

Aquele era seu lugar preferido na Universidade de New Jersey. A sombra da macieira era confortável para suas leituras das obras preciosas de

Sigmund Freud, Friedrich Nietzche. Podia passar horas sem se dar conta de que o mundo continuava girando enquanto ela lia.

Olhou de novo no relógio: 15h43. "Deve estar na biblioteca", murmurou.

Katherine levantou-se e seguiu para o prédio II, passou por alguns veteranos zoando com a cara de um calouro, estavam tentando convencê-lo a se declarar para a professora de Literatura, uma mulher mal amada, que usava roupas velhas e estava sempre com o cabelo desarrumado que não havia pensado duas vezes para dar zero para toda a turma de Psicologia na semana passada.

" Vamos, quem sabe ela descobre o amor e deixa todo mundo com nota 10?"

Ela sorriu, desviou do grupo e entrou no prédio, passou por dois andares de escadas e finalmente no terceiro o cruzou no corredor e acenou: - "John, preciso te mostrar o que eu descobri!"

Ele estava com uma garota pendurada em seu pescoço, dizendo o quanto ele ficava charmoso com a jaqueta do time de rugby. Com um pouco de esforço ele se livrou da loira, pegou Katherine pelo braço e a puxou até um corredor quieto.

-Já te disse para não expor a nossa amizade. Eu concordei em te ajudar, mas vamos nos encontrar em segredo! Ela consentiu e começou a caminhar de cabeça baixa até a biblioteca, ele a seguiu disfarçando para não serem vistos adentrando juntos até a última fileira de livros.

Ela se sentou no chão, tirou seus papéis bagunçados da velha mochila de couro e entregou a ele.

-Espero que tenha um bom motivo para me tirar da aula de História, mais uma falta e perco o semestre!

Ela sorriu. Como ele ficava adorável quando estava contra a luz do sol, seus cabelos castanhos acizentados caiam sobre os olhos cor de chumbo, olhos tão vivos que ela perdia o fôlego quando ele falava firme: "Katherine, suspirou... Estamos presos nisso há meses, quando vamos encontrar algo que seja concreto? Não temos provas ainda para expor ao reitor. Ele nos deu confiança total, mas não bota um pingo de fé nisso daqui" finalizou devolvendo os papéis a ela.

-Johnny, sorriu quando percebeu o olhar dele totalmente concentrado em sua fala, você quer prova maior do que a assinatura dele no fim de deste último pergaminho que encontrei? E me diga : se não fosse importante, por que estaria lacrado dentro da estante de livros do diretor da Universidade?

Meses antes, Katherine fora pega fora da aula, isso acontecia com frequência. Mas naquele dia o diretor não iria admitir. Ela havia conquistado o

primeiro lugar da Universidade de New Jersey de redação, e estava fora da classe no dia da final regional? Ele não deixaria de abrir mão de esfregar na cara dos outros diretores que sua aluna era a melhor e queria garantir mais uma medalha de honra para a preciosa estante de sua sala.

Mal sabia Mr. Philips que este era um plano para entrar na sala dele e roubar seu cofre. John estava do lado de fora da sala, aguardando o momento de arrumar briga com um calouro, para tirar a atenção do diretor.

Eles passavam a maior parte do tempo livre lendo as instruções daquilo que eles chamavam de "quebra-cabeça". Mapas, códigos, caminhos, cofres secretos, rabiscos, anotações em páginas de livro. Essa era a grande parte da diversão. Um jogo sem dono, de um antigo aluno encontrado escondido no baú do dormitório de Katherine.

Mas naquele dia ela havia encontrado algo. Uma série de números, que decifrados diziam o nome do autor da brincadeira.

-Crianças, disse a bibliotecária, já para fora, já são 17h00 e preciso que saiam daqui! Isto não é um quarto de motel, vão namorar em outro canto.

John levantou resmungando, e Katherine sorrindo baixinho o seguiu rumo ao desconhecido.